Minha culpa, nossa culpa

Deixei as crianças para um rápido passeio com o marido e, mesmo sem querer, carreguei a culpa comigo. Racionalmente, sempre achei e continuo achando que não só posso como devo dar um tempo pra nós e também pra mim mesma, sozinha, quando possível, mas toda essa consciência e a certeza de que os dois meninos estavam bem cuidados e sorridentes não me impediram de levar a danada na bagagem... E esse drama não é só meu. Dias antes tinha conversado com uma amiga chateada porque tinha decidido matricular o filho numa colônia de férias neste mês de julho, já que a escola fica fechada e ela tem que trabalhar à tarde. "Mas ele não gosta?"- eu perguntei. "Adora! Mas dá uma pena..." - foi a resposta dela...

O mais complexo é que nós, mulheres, lutamos (ainda bem) pelo direito de trabalhar fora de casa, de multiplicar nossos interesses, de sair do ninho, mas queremos, contra as possibilidades lógicas, estar presentes em 100% da vida dos filhos.... Ora, impossível! Presença e comprometimento emocional são uma coisa, companhia 24 horas por dia, 7 dias por semana, é outra... A voz que sai em defesa dos direitos de escolha da mulher é, frequentemente, a mesma que diz, de todas as formas em que é possível dizer, que só a mãe é capaz de dar a uma criança o que ela precisa, e que lugar de criança é com a mãe. Não sou louca de dizer que não seja, mas considerando que a maior parte das crianças também tem pai, avós, tios e outros que as amam - além do fato de que profissionais competentes e amorosos, sim, existem - é justo dividir essa responsabilidade um pouquinho, não? 

A gente tenta, mas caímos nas armadilhas que nós mesmas criamos - sem perceber, é claro. E o curioso é que quando engatamos a primeira e conseguimos um ritmo mais sereno, escapando dessas pressōes e auto censuras, a pisada no freio vem, muitas vezes, das nossas iguais, cuja culpa é tão grande que espirra até no filho dos outros. "Você não tem dó não? Desse tamaninho na escola, tadinho"... Dá vontade de responder "eu não tinha dó, mas se você continuar insistindo..." 

É duro enfrentar esses paradigmas tão enraizados. Deixar a mamãe quietinha em casa, cuidando dos filhos "como ninguém mais", seja por senso de responsabilidade ou por culpa, serviu durante muito tempo para manter as coisas como estavam. Mas o direito e a necessidade de uma respirada de vez em quando não pertencem só a quem tem jornada dupla... Quem se ocupa dia e noite de cuidar de criança também precisa de fôlego, e como precisa! Passar algumas horas - ou dias - sem trocar uma fralda ou sem se preocupar com a alimentação de alguém além de você mesma faz um bem que dá pra ver na cara da gente.... Pelo menos até alguém te perguntar: "ah, mas cadê o pequenininho?"

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