Sobre a dor da frustração (e o valor do abraço)

sexta

A sexta-feira dispensa apresentações, e muito cedo meu filho descobriu sua razão pra ser louco por ela. Sexta é dia de levar brinquedo pra aula. E era sexta quando paramos o carro na porta da escola e, só ali, eu lembrei: "ih, filho! Esquecemos seu brinquedo". Tão logo o cérebro decodificou a mensagem, o choro tomou conta do menino e, sim, eu quis resolver o problema. Meu primeiro ímpeto, humano, demasiado humano, foi voltar em casa e buscar o boneco que ele tinha escolhido ainda de manhã. Cheguei a sinalizar pro meu marido pra que fizéssemos isso, mas trocamos mais alguns olhares e decidimos não fazer.

Que tipo de mensagem eu passaria para ele se, já estacionada ali e com hora pra chegar no trabalho, eu desse uma volta no mundo e buscasse o boneco? Nós todos tínhamos esquecido, e a consequência ali era nada além da dolorosa frustração. Sim, dói, mas se tem algo certo nessa vida é que ela, a frustração, virá. E virá muitas vezes. E na maioria delas, eu e meu marido não estaremos ali pra consertar, ainda que a gente queira muito. A dor da frustração é daquelas que a gente vai domando aos poucos, contanto que saibamos aproveitar as oportunidades. A nós, pais, cabe portanto não roubar de nossos filhos tais oportunidades. É de pequenino que se torce o pepino...

É claro que se o caso fosse outro, se houvesse consequencia maior, como ficar de fora de uma atividade, ou se a chance de levar um brinquedo fosse uma em um milhão, teríamos feito diferente. Mas sexta-feira, convenhamos, tem toda semana. E o menino tem, sim, condiçōes de digerir a dor e descobrir, na sequencia, outras formas de fazer aquela tarde feliz. 

Ali sentada, ainda balançada pela vontade de lhe devolver a possibilidade perdida, tentei outra coisa. Disse que sentia muito, que ele tinha toda razão de chorar, e ofereci um abraço. Ele pulou pro banco da frente, molhou meu ombro durante o abraço, e eu esperei até que ele estivesse pronto. "Será que na escola tem algum brinquedo que você adora? Ou será que um amigo trouxe dois brinquedos e vai te emprestar um?" Ainda desconfiado destas novas possibilidades, ele topou entrar na sala. Tive três ou quatro minutos para observar de longe, e neste meio tempo o choro já tinha ido embora. Sim, havia outros brinquedos… E sim, os amigos emprestam... 

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