De onde nasce o paizão?

Já estive prestes a comprar uma boneca pros meus filhos algumas vezes. Até comprei, na verdade, uma pequenina que faz parte de uma coleção de bonecos e o menino curte até hoje, e acho que temos aqui também uma versão miudinha da mulher-maravilha e uma outra heroína cujo nome eu não lembro. Mas nunca comprei uma boneca dessas tipo bebê, tipo filhinha, que tanto encantam as meninas, e se me apertarem acho que vou dizer que não comprei porque eles nunca pediram. Ou, então, nunca insistiram. Mas o motivo real deve ser outro; aposto que tem a ver com aquelas coisas que ficam enraizadas na gente, embora a gente trabalhe pra arrancá-las do nosso peito. Leva tempo.

Neste último fim de semana estivemos na casa de uma amiga minha que tem uma menina e, por isso, os dois tiveram uma oportunidade diferente. Lá pelas tantas vi que as crianças tinham se arranjado numa brincadeira de casinha, em que todos faziam comida, organizavam a sala, o quarto… Pouco tempo depois, o menino estava colocando a boneca, então filha dele, no carrinho, com cinto de segurança e carinho na bochecha. Aí, como se não bastasse, tiveram outro filho, ele apoiou a amiga, digo, esposa no trabalho de parto e, assim que teve o bebê pelado em mãos, o levou pra mamar na mãe, dizendo baixinho alguma coisa que não deu pra entender. Aí colocou roupa, deu beijo, e até mostrou a irmã que já estava no carrinho. Brincou de ser pai.

Quando saímos de lá, no carro, eu disse pra ele que vi que a brincadeira, que adorei, e que eu acho que ele, um dia, vai ser um pai maravilhoso, se quiser ser pai. Ele deu um sorriso de orgulho, desses que vi poucas vezes na vida, e me perguntou: “Acha que vou ser igual ao papai?” “Tão bom quanto o papai.” “Eu não sei se vou querer, porque preciso crescer primeiro, mas eu acho que vou”, completou olhando pra cidade que ia passando pela janela, enquanto eu pensava na boneca que vou comprar.

Sim, existem exceções. Tem gente que tem a habilidade de construir uma história bacana ainda que seus exemplos não tenham sido os melhores, e tem inclusive quem tem o dom de reverter maus exemplos e falta de oportunidade em determinação para fazer diferente, e aí faz bonito, muito bonito. Nossa geração tem vários exemplos, mas não podemos contar com isso. O que podemos fazer pra que nossas crianças tenham sempre, a cada geração, motivos pra celebrar o Dia dos Pais é plantar valores. Plantar valores e, naturalmente, dar a elas oportunidades de identificar e desenvolver em si mesmas essas emoções e desejos que nos impulsionam a cuidar delas. E esse, como tudo o mais que diz respeito aos nossos filhos, é trabalho de pai e de mãe.

;)
Feliz Dia dos Pais!

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