Tédio, meu querido tédio!

Greg Westfall via VisualHunt

Greg Westfall via VisualHunt

No meio de uma manhã com seus brinquedos favoritos, desenhos na TV e até uma aulinha de natação para gastar energia, ele me disse, num protesto choroso: “eu não tenho nada pra fazer!”. “Hein?”, eu questionei, e ele desenvolveu, com lágrimas de verdade: “ai, mãe, eu não sei o que eu quero fazer. Eu olho pras coisas e não tenho ideia de brincadeira...” Ô meu filho, deixa eu te explicar: o nome disso é tédio. E é assim mesmo, acomete todo mundo, adultos e crianças - eu pensei, ainda que comovida pelo problema dele. Com quatro anos já bem vividos, não era, claro, a primeira vez que ele ficava entediado, mas acho que foi a primeira vez que ele identificou o drama e, de alguma forma, conseguiu verbalizar. Não sabia o nome, mas sabia explicar o que era. 

Me lembrei na hora daquela fala do Domingos Montagner no filme “Tarja Branca” em que ele enaltece o “nada pra fazer”. Fui na mesma linha. Sugeri que, se não tem ideia, então fica aí, faz nada mesmo, tudo bem não ter ideia. Fica aqui pertinho da mamãe, numa boa. A proposta gerou mais choro, porque não é essa a lógica do mundo de hoje, né? A gente precisa fazer alguma coisa! E eu, que sempre defendi a oferta de atividades (de preferência as mais saudáveis) até para os bebês, fiquei pensando em como ajudá-lo a lidar com o tédio com as ferramentas que tínhamos ali: nenhuma. Porque, certamente, tirar um coelho ou brinquedo da cartola não resolveria o problema. Me parecia um daqueles casos em que quanto mais a gente tenta evitar o problema, mais forte vem a resposta depois. Para aprender a lidar com o tédio, nada melhor que domá-lo, frente a frente, e tirar dali o prazer (e o potencial criativo) do ócio, da preguicinha, do olhar perdido no teto.  

Eu contei há um tempo o caso de um menino que encontramos no clube e que estava, visivelmente, perdido no meio de uma sacola lotada de brinquedos. Era um caso extremo, mas talvez não seja assim tão diferente do que se passou com meu filho na manhã do tédio. No fim das contas, acostumamos nossas crianças (e nos acostumamos também) a tantos estímulos, tantas possibilidades, a ter tanta alternativa o tempo todo, e nos esquecemos de que tem hora que nada disso funciona. E que tudo bem. Nem sempre a gente tem que ter a ideia mais legal, a atividade mais estimulante, o brinquedo mais criativo e/ou tecnológico. Aliás, aprender a ficar bem num ambiente sereno, sem novidades, apenas com nossos pensamentos e sentimentos vale ouro! 

E se o único jeito de aprender é tentando, é preciso deixá-los tentar. Estímulos, brinquedos e atividades sim, mas espaço também! É preciso vencer a tentação de resolver o problema, baixar mais um jogo, comprar uma bonequinha nova, sair da fila, voltar pra casa, enfim, fugir do tédio a qualquer custo. Ainda que doa. Ainda que eles resmunguem. Ainda que pareça maldade. Não é maldade, não. É oportunidade, pode apostar. 

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