Dia 43/52

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Acontece de eu me distrair, andar um pouco mais rápido, ou diminuir o passo, parar pra ler uma placa, olhar pro outro lado, pra uma vitrine, pra um cantinho charmoso que acabo de descobrir, mas vira e mexe sinto aquele calorzinho dos dedos dele procurando os meus. Ele quer andar de mãos dadas. Já ganhou, por causa da idade e de uma eventual tranquilidade, o direito de andar por si só, “sempre aqui pertinho, por favor”, e ele até vai, mas não chega muito longe, sempre volta pra buscar companhia, porque quer contar alguma coisa, perguntar alguma coisa, fazer uma suposição ou imaginar em voz alta. Faz isso com o pai, com a avó, faria com outros amigos adultos se eles estivem aqui por perto, e faz demais comigo, todos os dias, muitas vezes a cada dia. Nós usamos esse tempo pra conversar, pra repercutir alguma coisa que acabamos de conhecer juntos, ou até pra lembrar das histórias que nos dão saudade, que nos enchem de planos. Também fazemos incontáveis e variadas declarações de amor.

Hoje caminhou dependurado no meu braço pelo Palácio Real, primeiro se queixou timidamente, depois reclamou demais de certas salas, “não acho prato e garfo bonito!”, depois foi se interessando pelas primeiras relações entre a Europa e a América, gostou de ver trono e coroa de verdade, e se encheu de curiosidade na sala das armaduras, imaginando a vida “daquelas pessoas naquela época”. Depois, enquanto a gente caminhava pela rua, me pegou pela mão de novo, ameaçou uma conversa nova, não deu, acabou voltando no mesmo tema e por fim repreendeu a si mesmo, “ai, mãe, tô sem assunto, mas eu gosto tanto de ficar assim com você”... Apertei mais um pouquinho a mão dele.