Água mole em pedra dura… (viva os 5 anos!)

Michal Parzuchowski/Stocksnap.io

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Chegamos da natação no mesmo ritmo de sempre. O menino mexeu com um brinquedo que tinha sido deixado no chão, ameaçou pegar o violão que estava no sofá, mas antes que eu abrisse a boca pra indicar que não era hora daquilo, me disse decidido: “vou tomar banho sozinho”. Andou pro banheiro, tirou a roupa, molhou o corpo todo, me disse que eu não precisava mesmo ficar ali. Desligou o chuveiro e percebi que ensaboou o corpo todo. Igualzinho eu venho fazendo com ele, há cinco anos. Eu reapareci, disse meio incrédula que ia colocar o shampoo na cabeça dele, ele aceitou a ajuda e depois esfregou os cabelos firmemente, sem aquela moleza de todo dia, sem o “ai, mãe” de sempre. Lavou a cabeça, enxaguou depois, como se tivesse 12 anos de idade. E agora tem sido assim, todos os dias. Antes disso, eu já tinha insistido muito, já tinha pedido pra parar de enrolar, vendido a ideia de que meninos crescidos colaboram na hora do banho, que alguns até se lavam sozinhos... e não sei dizer o que mudou. Só sei que ele tinha, sim, ouvido tudo o que eu estava dizendo, e de uma hora pra outra resolveu me mostrar isso. Sabe aqueles dias em que eu ficava fingindo desmaio enquanto você tentava me ensinar alguma coisa, mãe? Então, eu estava aprendendo.

Aí volto os olhos pro pequetito. Dois anos e meio. Nada do que eu digo ele parece ouvir, ao menos no que diz respeito às orientações e repreensões típicas do dia a dia de mãe e filho. Peço pra guardar o brinquedo, ele não se move. Se insisto, diz que não. Se fecho a cara, ele sorri. Se digo que não tem graça e que ele tem que catar, ele diz “tá bom, tá bom”, mas não cata. Só faz se eu fizer, se eu levá-lo junto comigo. Outro dia no parquinho começou a jogar areia pro alto, eu disse pra parar, ele fez de novo, eu mudei o tom, avisei do perigo de ir no olho, ele riu, fez de novo, eu disse que assim a gente ia ter que ir embora, ele já ia enchendo a mão de areia de novo, e só parou quando segurei a mão dele. Tive que segurar por uns dez segundos porque se eu soltasse imediatamente, ele começaria tudo mais uma vez, pra em seguida reclamar do olho ardendo.

Me lembro da primeira vez que senti essa sensação clara de impotência, quando o menino tinha esses mesmos dois anos, e percebi que não conseguia tocá-lo com a voz. Se ele corresse à minha frente e eu precisasse pará-lo, precisava fazer isso com as mãos, porque ele não me ouvia, não obedecia. Será que o problema é comigo? Qual parte do falar - falar firme e docemente olhando nos olhos da criança - eu não entendi? Será que o problema é com ele? Por que ele não me compreende? O tempo passou sem que eu descobrisse resposta pra isso. Agora é exatamente esse menino, amadurecido que está aos cinco anos, que me tranquiliza com relação ao irmão. A preguiça e a indisposição pra tomar banho ainda vão aparecer vez ou outra, eu sei, mas tudo bem. Não é só isso: essa noite ele acordou às 4h, foi ao meu quarto, perguntou as horas, deitou comigo por algum tempo, mas não dormiu. Propus a cama dele, disse “vou com você”, e ele disse, “quero ir pra minha cama sozinho”. Fiquei quieta, duvidando respeitosamente, esperando que voltasse, pensando se aquilo não era estranho, se não era melhor eu levantar e ir até lá. Às 7h30 o despertador tocou, e eu notei que ele não voltou. Acordou feliz, na cama dele, uma hora depois.

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