O bebê virou menino

Eu não sei dizer nem como nem quando, mas o fato é que meu bebê virou um menininho. Tecnicamente, dizem os especialistas, isso acontece bem perto do segundo aniversário, mas posso dizer, sem medo de errar, que, com 1 ano e dez meses, ele já é um menino. Notei que o bebê foi embora há poucos dias, olhando nos olhos dele, quando participávamos de uma atividade lúdica em grupo. A instrutora, toda atenciosa, perguntava com leveza: “onde está a cabecinha?”, e ele mostrava, com as duas mãos. “E cadê o narizinho?”, e ele punha a dedo, me fitando com um olhar sorridente de quem quer confirmar que acertou. Olhar de menino… No intervalo, perguntei se ele estava gostando da brincadeira, e ele respondeu que sim, emendando: “tchau, mamãe”, enquanto voltava pro seu “posto” no tapete colorido.

Isso é 90% alegria pura e 10% frio na barriga, porque nos joga na cara o quanto o tempo voa e quão linda é cada etapa do desenvolvimento deles. Deve ser coisa parecida com o que sente um pai ou uma mãe na portinha da adolescência, e depois de novo, mais tarde, quando o adolescente vira gente grande. Adulto, sem tirar nem por. Será que cumprimos o papel até aqui? Será que deu certo? E será que ele está pronto pra fase nova? E eu? Estou pronta?

Preciso, inclusive, arrumar uma nova forma de nomeá-lo porque, de tanto nos ouvir dizer que cresceu, ele mesmo anda tomando providência: “neném mais não”, protesta o pequetito (será que pequetito ainda serve?) quando alguém o chama assim. Apesar da tentação, não me passa pela cabeça a ideia de parar o tempo - porque certamente a graça vem do correr dos fatos -, mas dá muita vontade de ter a mais incrível memória do mundo, pra guardar todas as sensações. Hoje cedo ele gargalhou quando eu lhe beijei a barriga, e eu não sei se vou lembrar deste sorriso daqui a mais um ano ou dois. Ontem, no nosso passeio de domingo, contou uma longa história pra vó dele, misturou personagens, riu de si mesmo como fazem os meninos doces, e talvez eu não tenha esse registro perfeito dentro de algum tempo…

Meu filho mais velho deixou de ser bebê há uns 3 anos, contando, assim, grosseiramente. Se, por um lado, isso muda tudo, por motivos óbvios, também posso dizer que não faz absolutamente nenhuma diferença. Seguimos nossa rotina de aprendizado, surpresas e carinhos recíprocos, e eu sigo com o coração na boca, na expectativa de estar fazendo o que tem que ser feito. Outro dia fiquei observando um adolescente, comprido e magrelo, em pé numa fila ao lado da mãe. Devia ter uns 15 ou 16 anos. Enquanto ele esperava o atendimento que sabe-se lá quanto tempo ia demorar, ele fazia carinho na nuca dela. Não sei o que se passa, e muitas coisas precisam ser consideradas, mas, olhando assim, eu não pediria mais nada.

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