Pelo direito de chorar

choro

Já há algum tempo eu acho que muito pouca gente está preparada para lidar com o choro. De três anos pra cá, desde que comecei a atentar para o direito dos meus filhos de chorarem, isso ficou claríssimo. Não estou falando da “técnica” de deixar a criança chorar sem parar para aprender a dormir sozinha, ou largar o bico, ou sei lá o quê. Não defendo isso. Nem de dar espaço pro choro de manha, que quem conhece a criança sabe muito bem detectar. Tô falando do direito de sentir e externar seus sentimentos; do direito de não engolir o choro.

A despeito de toda a boa intenção dos meus pais, eu fui criada pra não chorar, e acho que deste mal padece toda uma geração. É só observar: poucas são as pessoas que toleram bem um choro de criança - seja porque acham chatíssimo ou porque morrem de pena. A reação imediata, em ambos os casos, é fazer cessar o choro - seja concedendo o que a criança quer ou repreendendo, julgando, desrespeitando. 

O choro do meu pequetito hoje dá uma medida de onde isso começa. O bebê tem meses de vida, não fala nem uma palavra, e já ouviu, de muitas pessoas, em muitos contextos diferentes, “não chora, neném, não precisa chorar!” Não? E como ele vai avisar que alguma coisa não vai bem? Antes disso, tão logo o choro do meu filho mais velho foi ganhando força - saindo dos clássicos fralda suja, fome e sono e se tornando uma manifestação mais complexa das necessidades de um menino - eu encontrei, navegando na internet, uma proposta diferente, em favor da conexão com as crianças, ao invés da punição e do desrespeito - conexaopaisefilhos.com. Isso passa, dentre outras coisas, por dar espaço ao choro, em determinadas circunstâncias, e eu acho que faz um sentido enorme. E um bem que só experimentando pra entender...

Difícil é colocar em prática, principalmente fora de casa. Me lembro até hoje de um passeio no shopping que, depois de muita desconexão, terminou com um choro desproporcional diante de um não. “Não vou comprar bala agora.” Quando ele deitou no chão pra se debater por causa daquilo, vi que precisava deixar sair. Dei alguns passos pra trás e esperei que ele terminasse. Antes que isso acontecesse, porém, duas pessoas que eu nunca tinha visto na vida, uma de cada vez, se intrometeram. “O que foi, coitadinho?” “Ah, um menino tão bonito chorando assim…” E ficaram me olhando, cobrando que eu “resolvesse o problema”...

Problema, pra mim, é crescer achando que choro é feio, que precisa ser engolido. Choro é uma forma de extravasar sentimento e é, sim, direito de todos. Faz uma falta danada. Parece óbvio, mas é bom que isso seja dito - principalmente para os meninos.

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