Se eu roubei seu coração…


O choro do bebê começou ainda na porta da sala de aula, na despedida da professora, por um motivo que não está claro, e talvez nunca fique. Foi algum desencontro entre a sede dele, o copo de água disponível e o timing da mãe. E apesar das várias tentativas de resolver o problema, o resmungo saiu da escola, atravessou a rua, entrou no carro, fez um desvio pra dar carona pra tia, parou nuns 3 ou 4 sinais, virou a esquina aqui e ali e já ia chegando em casa quando se ouviu no banco de trás:

- “Nessa rua, nessa rua tem um bosque, que se chama, que se chama solidão…” E agora, mãe?
- “Dentro dele, dentro dele mora um anjo”...
- “Que roubou, que roubou meu coração. Se eu roubei, se eu roubei seu coração…” - seguiu cantando o menino, com a vozinha fina e baixa, enquanto o bebê, agora em silêncio, entortava a cabeça pra ver. - Eu tô cantando pra acalmar ele, mãe!
- Eu tô vendo! E tá dando certo!
- Sim! Me ajuda! Canta mais uma música bem calminha...
- “Brilha, brilha estrelinha, quero ver você brilhar…” - a mãe arriscou, e todos cantaram juntos, bebê inclusive.

Pronto, em casa. Carro estacionado. Silêncio.

- Posso soltar o cinto, mãe?
- Pode.
- Quero dar um beijo no meu bebê.

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