Dia 6/52

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(Dia 6) A visita de hoje não era qualquer uma. O menino estava ansioso desde cedo porque ia receber em casa, pras férias ficarem com ainda mais cara de férias, a melhor amiga da escola, aquela que ele chama de "melhor surpresa do ano". Ficou andando de um lado pro outro à medida que o relógio se aproximava das 13h, e me disse com desconforto que "todas as vezes que um amigo que eu gosto muito vem aqui eu fico assim, não sei mais o que fazer." Não há o que fazer, eu pensei, só sentir, e sugeri que ele focasse na alegria de receber quem ele gosta, sem se preocupar com o resto. A espera não durou mais que o combinado, e primeiro desenharam entusiasmados, escreveram "cartas" um pro outro, ouviram música e, por fim, criaram um mundo paralelo com almofadas, uma barraca que já não para em pé, e uma lanterna, embora fossem 16h de um claríssimo dia de (quase) verão. Fiquei surpresa pensando em como é possível uma história imaginária durar tanto, e ir tão longe, sem que se desentendessem, sem que ficassem sem repertório, até que ouvi uma parte da conversa, em que depois de debater sobre o que existe de fato no mundo e o que "não é bem assim", concluíram felizes que "aqui, na brincadeira, quando a gente está junto, qualquer coisa pode ser".

Ele não me disse com essas palavras, mas já era assim desde agosto, ou setembro, quando se aproximaram na escola e, pra ele, se abriu um monte de possibilidades diferentes. Nem só de lutinhas e cartinhas de Pokémon se fazia mais o recreio dele - era com ela que vinha passando seu tempo livre na escola, com quem conversava sobre as atividades em sala, e o que fizeram em casa, e como vai ser o fim de semana… E me disse surpreso que ela era legal demais, que se preocupava com ele, que perguntava se ele estava feliz, e que conhecia os caras do Ninjago, e isso é demais! “Nós vamos ser amigos pra sempre!” Hoje, entre uma brincadeira e outra, naquele clima gostoso de tarde que não tem hora pra acabar, me disse que nunca imaginou gostar tanto de ter uma amiga menina, “mas a vida é assim, né, mãe? Às vezes aparecem surpresas, e a gente acaba gostando muito!”